Primeiros Escritos

Prefácio histórico

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Primeiros Escritos são obra de permanente e especial interesse aos Adventistas do Sétimo Dia, pois abrangem os primeiros livros de Ellen G. White. Foram escritos e publicados pela primeira vez na década de 1850, para edificação e instrução daqueles com os quais a autora passara pelas experiências relacionadas com os Adventistas Observadores do Sábado, nas décadas de 1840 e princípio de 1850. Assim sendo, a autora deu como certo que o leitor tivesse conhecimento da história do Despertamento Adventista e do progresso do Movimento Adventista do Sétimo Dia que emergiu em 1844. Conseqüentemente as experiências daquele tempo, bem compreendidas, são em alguns casos apenas mencionadas, empregando-se expressões que, para ser corretamente compreendidas, têm de ser consideradas na contextura da história dos Adventistas Observadores do Sábado daqueles anos iniciais.

Em 1858, escrevendo da proclamação das mensagens dos três anjos de Apocalipse 14, Ellen White trata das experiências dos que participaram da obra, e tira lições dessas experiências, em vez de, como seria de esperar, dar uma bem definida apresentação do caráter dessas mensagens. (Ver págs. 232-240; 254-258.) Ela por vezes emprega expressões hoje pouco usadas, como “Adventistas nominais”, “porta fechada”, “porta aberta”, etc.

Hoje estamos afastados mais de um século daqueles tempos heróicos. O leitor deve conservar isto bem claro na mente. A história que era tão bem conhecida aos contemporâneos de Ellen White recapitularemos agora, tocando em alguns dos pontos altos das experiências dos Adventistas Observadores do Sábado durante uma década ou duas das que precederam a primeira publicação da matéria que aqui aparece.

Nos parágrafos iniciais a Sra. White faz breve referência a sua conversão e sua experiência cristã na infância. Fala também de haver assistido a conferências sobre a doutrina bíblica quanto ao esperado advento pessoal de Cristo, que se julgava estar muito próximo. O grande Despertamento Adventista, ao qual tão breve referência é aqui feita, foi um movimento de alcance mundial. Apareceu em resultado de cuidadoso estudo das passagens proféticas da parte de muitos, e a aceitação das boas novas da vinda de Jesus por grande número de pessoas, através do mundo.

O grande despertamento adventista

Foi, porém, nos Estados Unidos que a mensagem do Advento foi mais vastamente proclamada e recebida. Sendo as profecias bíblicas referentes à volta de Jesus aceitas por homens e mulheres eruditos, de muitas profissões religiosas, resultou daí um grande número de fervorosos crentes adventistas. Convém notar, todavia, que não se formou nenhuma organização religiosa separada e distinta. A esperança do Advento levou a profundos avivamentos religiosos que beneficiaram todas as igrejas protestantes, levando muitos céticos e incrédulos a confessar em público sua fé na Bíblia e em Deus.

Ao aproximar-se o movimento de seu ponto alto, na primeira década dos 1840, várias centenas de ministros uniram-se na proclamação da mensagem. Na liderança achava-se Guilherme Miller, que viveu na extremidade oriental do Estado de Nova Iorque. Era ele homem preeminente na comunidade, empenhado na lavoura como seu meio de vida. Apesar de uma rica base religiosa, na juventude tornou-se cético. Perdeu a fé na Palavra de Deus e adotou teorias deístas. Quando, um domingo de manhã, leu um sermão na Igreja Batista, o Espírito Santo tocou-lhe o coração, e foi levado a aceitar a Jesus Cristo como seu Salvador. Miller pôs-se a estudar a Palavra de Deus, resolvido a descobrir na Bíblia uma resposta satisfatória a todas as suas dúvidas, e aprender por si mesmo as verdades expostas em suas páginas.

Por dois anos dedicou ele muito de seu tempo a um estudo das Escrituras, versículo por versículo. Resolveu não passar a estudar o versículo seguinte enquanto não achasse uma explicação satisfatória daquele que estava estudando. Tinha a sua frente unicamente a Bíblia e uma concordância. Com o tempo, seu estudo chegou às profecias da segunda vinda de Cristo, literal e pessoal. Também se empenhou muito no estudo das grandes profecias acerca de tempo, particularmente dos 2.300 dias, de Daniel 8 e 9, que ele vinculava à profecia de Apocalipse 14 e à mensagem do anjo a proclamar a hora do juízo divino. Apocalipse 14:6, 7. Neste volume na pág. 229, a Sra. White declara que “Deus enviou Seu anjo, para comover o coração” de Guilherme Miller, “a fim de levá-lo a pesquisar as profecias.

Em sua juventude, a Sra. White ouviu Miller em duas séries de conferências, na cidade de Portland, no Maine. Sentiu no coração uma profunda e duradoura impressão. Deixemos que ela nos exponha o cálculo das profecias, como o Pastor Miller os apresentou ao seu auditório. Para isso nos volvemos ao livro posterior da Sra. White, O Grande Conflito:

O cálculo dos períodos proféticos

“A profecia que mais claramente parecia revelar o tempo do segundo advento, era a de Daniel 8:14: ‘Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.’ Seguindo sua regra de fazer as Escrituras o seu próprio intérprete, Miller descobriu que um dia na profecia simbólica representa um ano (Números 14:34; Ezequiel 4:6); viu que o período de 2.300 dias proféticos, ou anos literais, se estenderia muito além do final da dispensação judaica, donde o não poder ele referir-se ao santuário daquela dispensação. Miller aceitou a opinião geralmente acolhida, de que na era cristã a Terra é o santuário, e, portanto, compreendeu que a purificação do santuário predita em Daniel 8:14 representa a purificação da Terra pelo fogo, à segunda vinda de Cristo. Se, pois, se pudesse encontrar o exato ponto de partida para os 2.300 dias, concluiu que se poderia facilmente determinar a ocasião do segundo advento. Assim se revelaria o tempo daquela grande consumação, ‘tempo em que as condições presentes, com todo o seu orgulho e poder, pompa e vaidade, impiedade e opressão, viriam ao fim’, que a maldição ‘se removeria da Terra, a morte seria destruída, dar-se-ia o galardão aos servos de Deus, os profetas e os santos, e aos que temem o Seu nome, e seriam destruídos os que devastam a Terra’. — Bliss.

“Com um novo e mais profundo fervor, Miller continuou o exame das profecias, dedicando dias e noites inteiras ao estudo do que agora lhe parecia de tão estupenda importância e absorvente interesse. No capítulo oitavo de Daniel ele não pôde achar nenhum fio que guiasse ao ponto de partida dos 2.300 dias; o anjo Gabriel, conquanto tivesse recebido ordem de fazer com que Daniel compreendesse a visão, deulhe apenas uma explicação parcial. Quando a terrível perseguição a recair sobre a igreja foi desvendada à visão do profeta, abandonou-o a força física. Não pôde suportar mais, e o anjo o deixou por algum tempo. Daniel enfraqueceu e esteve enfermo alguns dias. ‘Espanteime acerca da visão’, diz ele, ‘e não havia quem a entendesse.’

“Deus ordenou, contudo, a Seu mensageiro: ‘Dá a entender a este a visão.’ A incumbência devia ser satisfeita. Em obediência a ela, o anjo, algum tempo depois, voltou a Daniel, dizendo: ‘Agora saí para fazer-te entender o sentido’; ‘toma, pois, bem sentido na palavra, e entende a visão.’ Daniel 9:22, 23. Havia, na visão do capítulo oito, um ponto importante que tinha sido deixado sem explicação, a saber, o que se refere ao tempo, ou seja, ao período dos 2.300 dias; portanto o anjo, retomando sua explicação, ocupa-se principalmente do assunto do tempo:

“‘Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade. ... Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas: as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos. E depois das sessenta e duas semanas será tirado o Messias, e não será mais. ... E Ele firmará um concerto com muitos por uma semana: e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares.’ Daniel 9:24-27.

“O anjo fora enviado a Daniel com o expresso fim de lhe explicar o ponto que tinha deixado de compreender na visão do capítulo oito, a saber, a declaração relativa ao tempo: ‘Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.’ Depois de mandar Daniel tomar bem sentido na palavra e entender a visão, as primeiras declarações do anjo foram: ‘Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade.’ A palavra aqui traduzida ‘determinadas’ significa literalmente ‘separadas’. Setenta semanas, representando 490 anos, declara o anjo estarem separadas, referindose especialmente aos judeus. Mas, separadas de quê? Como os 2.300 dias foram o único período de tempo mencionado no capítulo oito, devem ser o período de que as setenta semanas se separaram; estas devem ser, portanto, uma parte dos 2.300 dias, e os dois períodos devem começar juntamente. Declara o anjo datarem as setenta se- manas da saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém. Se se pudesse encontrar a data desta ordem, estaria estabelecido o ponto de partida do grande período dos 2.300 dias.

“No sétimo capítulo de Esdras acha-se o decreto. Esdras 7:12-26. Em sua forma completa foi promulgado por Artaxerxes, rei da Pérsia, em 457 antes de Cristo. Mas em Esdras 6:14 se diz ter sido a casa do Senhor em Jerusalém edificada ‘conforme o mandado [ou decreto, como se poderia traduzir] de Ciro e de Dario, e de Artaxerxes, rei da Pérsia’. Estes três reis, originando, confirmando e completando o decreto, deram-lhe a perfeição exigida pela profecia para assinalar o início dos 2.300 anos. Tomando-se o ano 457 antes de Cristo, tempo em que se completou o decreto, como data da ordem, viu-se ter-se cumprido toda a especificação da profecia relativa às setenta semanas.

“‘Desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, o Príncipe, sete semanas, e sessenta e duas semanas’ — a saber, sessenta e nove semanas ou 483 anos. O decreto de Artaxerxes entrou em vigor no outono de 457 antes de Cristo. A partir desta data, 483 anos estendem-se até o outono do ano 27 de nossa era. (Ver Apêndice.) Naquele tempo esta profecia se cumpriu. A palavra ‘Messias’ significa o ‘Ungido’. No outono do ano 27 de nossa era, Cristo foi batizado por João, e recebeu a unção do Espírito. O apóstolo São Pedro testifica que ‘Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude’. Atos dos Apóstolos 10:38. E o próprio Salvador declarou: ‘O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres.’ Lucas 4:18. Depois de Seu batismo Ele foi para a Galiléia, ‘pregando o evangelho do reino de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido’. Marcos 1:14, 15.

“‘E Ele firmará concerto com muitos por uma semana.’ A ‘se mana’, a que há referência aqui, é a última das setenta, são os últimos sete anos do período concedido especialmente aos judeus. Durante este tempo, que se estende do ano 27 ao ano 34 de nossa era, Cristo, a princípio em pessoa e depois pelos Seus discípulos, dirigiu o convite do evangelho especialmente aos judeus. Ao saírem os apóstolos com as boas novas do reino, a recomendação do Salvador era: ‘Não ireis pelos caminhos das gentes, nem entrareis em cidades de samaritanos; mas ide às ovelhas perdidas da casa de Israel.’ Mateus 10:5, 6.

“Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares.’ No ano 31 de nossa era, três anos e meio depois de Seu batismo, nosso Senhor foi crucificado. Com o grande sacrifício oferecido sobre o Calvário, terminou aquele sistema cerimonial de ofertas, que durante quatro mil anos haviam apontado para o Cordeiro de Deus. O tipo alcançou o antítipo, e todos os sacrifícios e ofertas daquele sistema cerimonial deveriam cessar.

“As setenta semanas, ou 490 anos, especialmente conferidas aos judeus, terminaram, como vimos, no ano 34. Naquele tempo, pelo ato do Sinédrio judaico, a nação selou sua recusa do evangelho, pelo martírio de Estêvão e perseguição aos seguidores de Cristo. Assim, a mensagem da salvação, não mais restrita ao povo escolhido, foi dada ao mundo. Os discípulos, forçados pela perseguição a fugir de Jerusalém, ‘iam por toda parte, anunciando a Palavra’. Filipe desceu à cidade de Samaria e pregou a Cristo. São Pedro, divinamente guiado, revelou o evangelho ao centurião de Cesaréia, Cornélio, que era temente a Deus; e o ardoroso Paulo, ganho à fé cristã, foi incumbido de levar as alegres novas ‘aos gentios de longe’. Atos dos Apóstolos 8:4, 5; 22:21.

“Até aqui, cumpriram-se de maneira surpreendente todas as especificações das profecias e fixa-se o início das setenta semanas, inquestionavelmente, no ano 457 antes de Cristo, e seu termo no ano 34 de nossa era. Por estes dados não há dificuldade em acharse o final dos 2:300 dias. Tendo sido as setenta semanas — 490 dias — separadas dos 2.300 dias, ficaram restando 1.810 dias. De- pois do fim dos 490 dias os 1.810 dias deveriam ainda cumprir-se. Contando do ano 34 de nossa era, 1.810 anos se estendem a 1844. Conseqüentemente, os 2.300 dias de Daniel 8:14 terminaram em 1844. Ao expirar este grande período profético, ‘o santuário será purificado’, segundo o testemunho do anjo de Deus. Deste modo foi definitivamente indicado o tempo da purificação do santuário, que quase universalmente se acreditava ocorresse por ocasião do segundo advento.

“Miller e seus companheiros a princípio creram que os 2.300 dias terminariam na Primavera de 1844, ao passo que a profecia indicava o outono daquele ano. (Ver Apêndice.) A compreensão errônea deste ponto trouxe desapontamento e perplexidade aos que haviam fixado a primeira daquelas datas para o tempo da vinda do Senhor. Isto, porém, não afetou nem de leve a força do argumento que mostrava terem os 2.300 dias terminado no ano 1844, e que o grande acontecimento representado pela purificação do santuário deveria ocorrer então.

“Devotando-se ao estudo das Escrituras, como fizera, a fim de provar serem elas uma revelação de Deus, Miller não tinha a princípio a menor expectativa de atingir a conclusão a que chegara. A custo podia ele mesmo dar crédito aos resultados de sua investigação. Mas a prova das Escrituras era por demais clara e forte para que fosse posta de parte.

“Dois anos dedicara ele ao estudo da Bíblia, quando, em 1818, chegou à solene conclusão de que dentro de vinte e cinco anos, aproximadamente, Cristo apareceria para redenção de Seu povo.” — O Grande Conflito entre Cristo e Satanás, 324-329.

O desapontamento e seus resultados

Foi com viva antecipação que os crentes no Advento viram aproximar-se o dia da esperada volta de seu Senhor. Viram o outono de 1844 como o tempo ao qual apontava a profecia de Daniel. Deviam, porém sofrer amarga decepção esses dedicados crentes. Como sofreram desapontamento os discípulos de outrora, deixando de compreender o exato caráter dos acontecimentos a realizar-se em cumprimento da profecia relacionada ao primeiro advento de Jesus, assim os Adventistas em 1844 foram decepcionados concernente ao desenrolar da profecia relacionada com a esperada segunda vinda de Cristo. A esse respeito, Ellen White escreveu neste volume:

“Jesus não veio à Terra como o grupo expectante e jubiloso esperava, a fim de purificar o santuário mediante a purificação da Terra pelo fogo. Vi que eles estavam certos na sua interpretação dos períodos proféticos; o tempo profético terminou em 1844, e Jesus entrou no lugar santíssimo para purificar o santuário no fim dos dias. O engano deles consistiu em não compreender o que era o santuário e a natureza de sua purificação.” — Primeiros Escritos, 243.

Quase imediatamente após o desapontamento de 22 de Outubro, muitos crentes e ministros que se haviam associado à proclamação da mensagem do Advento se afastaram. Alguns deles se haviam unido ao movimento em grande parte por temor, e passado o tempo da expectativa, abandonaram a esperança e desapareceram. Outros foram arrastados pelo fanatismo. Cerca da metade do grupo adventista apegou-se à confiança de que logo Cristo apareceria nas nuvens do Céu. No caso do desprezo e ridículo sobre eles cumulados pelo mundo, julgaram ver evidências de que passara o dia de graça para o mundo. Essas pessoas criam firmemente que a volta do Senhor estava muito próxima. Mas como os dias se fizeram semanas e o Senhor não aparecia, desenvolveu-se uma divisão de opiniões, e esse grupo se dividiu. Uma parte, numericamente grande, assumiu a posição de que a profecia não se cumprira em 1844, e de que devia ter havido um engano no cálculo dos períodos proféticos. Começaram a fixar a atenção em uma futura data específica para o acontecimento. Outros havia, num grupo menor, os antepassados da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que estavam tão convictos das evidências da operação do Espírito de Deus no grande Despertamento Adventista que, negar fosse o movimento a atuação do Senhor seria — assim criam — um insulto ao Espírito de graça. E isto achavam que não podiam fazer.

É dada uma visão a Ellen Harmon

A experiência desse grupo de crentes, e a obra que deviam fazer, acharam eles retratada nos últimos versículos de Apocalipse 10. Devia ser revivida a expectação do Advento. Deus os guiara até ali. Guiava-os ainda. Havia em seu meio uma jovem, de nome Ellen Harmon, que em Dezembro de 1844, mal dois meses após o Desapontamento, recebeu de Deus uma revelação profética. Nessa visão o Senhor descreveu-lhe a jornada do povo do Advento para a Nova Jerusalém. Conquanto essa visão não explicasse a razão do Desapontamento — explicação esta que só podia provir do estudo da Bíblia — ela deu-lhes a certeza de que Deus os estava guiando e continuaria a guiá-los em sua peregrinação rumo da cidade celestial.

No princípio da simbólica vereda revelada à jovem Ellen estava uma brilhante luz, identificada pelo anjo como o clamor da meianoite — expressão vinculada à poderosa pregação do verão e outono de 1844, sobre o iminente Segundo Advento. Nessa visão ela viu Cristo guiando o povo para a cidade de Deus. Sua conversão indicava que a jornada seria mais longa de que haviam antecipado. Alguns perderam de vista a Jesus e caíram fora da vereda, mas os que mantiveram os olhos em Jesus e na cidade, alcançaram seu destino sãos e salvos. Isto é o que se vê apresentado em “Minha Primeira Visão”, nas págs. 13-17.

Dois grupos de adventistas

A princípio, apenas alguns foram identificados como pertencendo ao grupo que avançava, numa luz cada vez mais brilhante. Pelo ano 1846 seu número alcançava cerca de cinqüenta.

O grupo maior, que abandonara a confiança no cumprimento da profecia em 1844, contava aproximadamente trinta mil. Seus líderes reuniram-se em 1845, numa assembléia em Albany, Nova Iorque, de 29 de Abril a 1. de maio, ocasião em que reestudaram sua posição. Por voto formal registraram uma advertência contra os que pretendiam ter “iluminação especial”, os que ensinavam “fábulas judaicas”, e os que estabeleciam “novos testes” Advent Herald, 14 de Maio de 1845. Deste modo fecharam a porta para entrada de luz sobre o Sábado e o Espírito de Profecia. Estavam confiantes de que a profecia não se cumprira em 1844, e alguns marcaram tempo para a terminação dos 2.300 dias no futuro. Várias datas foram marca- das, mas uma após a outra passaram. Essas pessoas, conservadas unidas pelo elemento coesivo da Esperança do Advento, a princípio se arregimentaram em vários grupos ligados frouxamente, com considerável variação em certos pontos doutrinários. Alguns desses grupos em breve se desfizeram. O grupo que sobreviveu tornou-se a Igreja Cristã Adventista. Esses são identificados neste livro como os “Adventistas do primeiro dia”, ou “Adventistas nominais”.

Irradia a luz sobre o Santuário

Mas devemos agora voltar atrás, aos que tenazmente se apegavam à confiança de que a profecia se cumprira em 22 de Outubro de 1844, e que, de mente e coração abertos, avançaram na consideração das verdades acerca do sábado e do santuário, à medida que a luz do Céu lhes iluminava o caminho. Essas pessoas não se localizavam em qualquer lugar determinado, mas eram pessoas isoladas ou grupos muito pequenos aqui e ali, através do norte central e do nordeste dos Estados Unidos.

Hiram Edson, um dos membros desse grupo, vivia no centro do Estado de Nova Iorque, em Port Gibson. Era o líder dos Adventistas naquela área. Os crentes reuniram-se em sua casa, a 22 de Outubro de 1844, para aguardar a vinda do Senhor. Calma e pacientemente esperaram o grande acontecimento. Mas ao chegar a meia-noite e reconhecerem que o dia da expectativa passara, tornou-se claro que Jesus não viria tão logo como tinham pensado. Foi uma ocasião de profundo desapontamento. De madrugada Hiram Edson e alguns mais foram ao celeiro para orar, e ao orarem, sentiu-se ele certo de que a luz viria.

Pouco mais tarde, quando Edson e um amigo atravessavam um milharal para visitar companheiros adventistas, teve a impressão de que u’a mão lhe tocava o ombro. Olhou para cima, para ver — como em visão — os céus abrirem-se, e Cristo no santuário celestial entrando no lugar santíssimo, para ali começar uma obra de ministério em favor de Seu povo, em vez de sair do santíssimo para purificar o mundo com fogo, como haviam ensinado. O cuidadoso estudo da Bíblia, por Hiram Edson, F. B. Hahn, médico; e O. R. L. Crozier, professor, logo revelou que o santuário a ser purificado no final dos 2.300 dias não era a Terra mas o tabernáculo do Céu, com Cristo a ministrar em nosso favor, no lugar santíssimo. Esta obra mediadora de Cristo respondia ao chamado da “hora do juízo de Deus” anunciado na mensagem do primeiro anjo. Apocalipse 14:6, 7. Crozier, o professor, registrou os resultados do grupo de estudo. Foram impressos localmente, e depois de forma mais completa, numa revista adventista, conhecida como Day Star, publicada em Cincinnati, Ohio. Um número especial, datado de 7 de Fevereiro de 1846, foi dedicado inteiramente a esse estudo bíblico sobre a questão do santuário.

Verdades confirmadas por visão

Enquanto se estava procedendo a esse estudo, e antes de ser publicado seu trabalho, longe, no oriente do Estado de Maine, foi dada uma visão a Ellen Harmon, na qual lhe foi revelada a transferência do ministério de Cristo, do lugar santo para o lugar santíssimo, no final dos 2.300 dias. O registro dessa visão encontra-se em Primeiros Escritos, 54-56.

De outra visão, logo após essa, como refere a Sra. White numa declaração escrita em Abril de 1847, ela relata que “o Senhor mostrou-me em visão, faz mais de um ano, que o irmão Crozier tinha a verdadeira compreensão da purificação do santuário, etc.; e que era da vontade de Deus que o irmão Crozier escrevesse por extenso a visão que ele nos deu no Day Star Extra, 7 de Fevereiro de 1846. Sinto-me perfeitamente autorizada pelo Senhor a recomendar esse Extra a todo santo”. A Word to the Little Flock, 12. Assim as conclusões dos estudiosos da Bíblia foram confirmadas pelas visões da mensageira de Deus.

Em anos subseqüentes Ellen White escreveu bastante acerca da verdade do santuário e seu significado para nós, e sobre isso há muitas referências nos Primeiros Escritos. Note-se especialmente o capítulo que começa na página 250, intitulado: “O Santuário”. A compreensão do ministério de Cristo no santuário celestial demonstrou-se ser a chave que descerrou o mistério do grande Desapontamento. Nossos pioneiros viram claro que a profecia que anunciava a próxima hora do juízo divino, teve seu cumprimento nos acontecimentos que tiveram lugar em 1844, mas que havia uma obra de ministério a ser realizada no lugar santíssimo do santuário celestial, antes que Jesus retornasse à Terra.

A mensagem do primeiro anjo e a mensagem do segundo anjo foram ouvidas na proclamação da mensagem do Advento, e agora começou a soar a mensagem do terceiro anjo. Mediante esta mensagem começou a esclarecer-se o significado do sábado do sétimo dia.

O princípio da observância do Sábado

Ao rastearmos a história do princípio da observância do sábado entre os primeiros adventistas, iremos a uma pequena igreja da cidade de Washington, no coração de New Hampshire, o Estado que limita com Maine ao leste e cuja fronteira ocidental fica a 95 quilômetros da divisa com Nova Iorque. Aí os membros de uma igreja cristã independente ouviram, em 1843, a pregação da mensagem do advento e a aceitaram. Era um grupo fervoroso. Ao seu meio compareceu uma Batista do Sétimo Dia, Raquel Oakes, que distribuía folhetos que expunham a obrigatoriedade da observância do quarto mandamento. Alguns, em 1844, viram e aceitaram essa verdade bíblica. Um deles, William (Guilherme) Farnsworth, num serviço religioso dominical, pôs-se em pé e declarou que pretendia guardar o sábado divino do quarto mandamento. Doze outros se lhe uniram, posicionando-se firmemente ao lado de todos os mandamentos de Deus. Foram os primeiros Adventistas do Sétimo Dia.

O pastor encarregado desse grupo eclesiástico, Frederico Wheeler, logo aceitou o sábado do sétimo dia, e foi o primeiro ministro a assim proceder. Outro dos pregadores adventistas, T. M. Preble, que vivia no mesmo Estado, aceitou a verdade do sábado e em Fevereiro de 1845 publicou, na revista Hope of Israel, um dos periódicos adventistas, um artigo expondo a obrigatoriedade da observância do quarto mandamento. José Bates, preeminente ministro adventista residente em Fairhaven, Massachusetts, leu o artigo de Preble e aceitou o sábado do sétimo dia. Logo depois, o Pastor Bates viajou para Washington, em New Hampshire, para estudar essa nova verdade com os adventistas observadores do sábado ali residentes. Ao voltar para casa, estava plenamente convicto da verdade sabática. Bates oportunamente resolveu publicar um folheto expondo as reivindicações do quarto mandamento. Seu folheto, de 48 páginas, sobre o sábado foi publicado em Agosto de 1846. Um exemplar dele veio ter às mãos de Tiago e Ellen White, cerca do tempo de seu casamento, em fins de Agosto. Pelas provas escriturísticas nele apresentadas, aceitaram o sábado do sétimo dia e começaram a guardá-lo. A esse respeito Ellen White mais tarde escreveu: “No outono de 1846 começamos a observar o sábado bíblico, e a ensiná-lo e defendê-lo”. — Testimonies for the Church 1:75.

Revelado o sentido do Sábado

Tiago e Ellen White assumiram sua posição baseados puramente nas evidências escriturísticas às quais tiveram a atenção dirigida pelo folheto de Bates. Então, no primeiro sábado de Abril de 1847, sete meses depois de haverem começado a guardar e ensinar o sábado do sétimo dia, o Senhor deu à Sra. White em Topsham, Maine, uma visão na qual se acentuava a importância do sábado. Ela viu as tábuas da lei na arca, no santuário celestial, e um halo de luz circundando o quarto mandamento. (Ver nas págs. 32-35 o relato dessa visão.) Confirmou-se a posição previamente assumida, decorrente do estudo da Palavra de Deus. A visão também ajudou a ampliar o conceito dos crentes quanto à observância do sábado. Nessa revelação, a Sra. White foi conduzida ao período final do tempo e viu o sábado como a grande verdade comprovadora segundo a qual os homens decidem se devem servir a Deus ou servir a um poder apóstata. Olhando retrospectivamente para 1874, escreveu, sobre esse caso: “Cri na verdade quanto à questão do sábado antes de ter visto o que quer que fosse em visão relativa ao sábado. Só meses depois de ter começado a guardar o sábado foi que me foi mostrada sua importância e seu lugar na terceira mensagem angélica.” — Carta 2, 1874.

As importantes conferências sobre o Sábado

Por providência de Deus, os vários ministros observadores do sábado, que lideraram o ensino dessas verdades recentemente descobertas, com vários de seus seguidores, reuniram-se em 1848, em cinco conferências sobre o sábado. Com períodos de jejum e oração estudaram a Palavra de Deus. O Pastor Bates, o apóstolo da verdade sobre o sábado, tomou a liderança em advogar a obrigatoriedade da guarda desse dia. Hiram Edson e seus associados, que assistiram a algumas conferências, foram positivos em sua apresentação da verdade sobre o santuário. Tiago White, cuidadoso estudante da profecia, focalizou sua atenção nos acontecimentos que têm de realizar-se antes que Jesus volte. Nessas reuniões foram enfeixadas as principais doutrinas mantidas hoje pelos Adventistas do Sétimo Dia.

Recordando esses incidentes, Ellen White escreveu:

“Muitos de nosso povo não reconhecem quão firmemente foram lançados os alicerces de nossa fé. Meu esposo, o Pastor José Bates, o Pai Pierce, o Pastor [Hiram] Edson, e outros que eram inteligentes, nobres e verdadeiros, achavam-se entre os que, expirado o tempo em 1844, buscavam a verdade como a tesouros escondidos. Reunia-me com eles, e estudávamos e orávamos fervorosamente. Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite, e às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra. Repetidas vezes esses irmãos se reuniram para estudar a Bíblia, a fim de que conhecessem seu sentido e estivessem preparados para ensiná-la com poder. Quando, em seu estudo, chegavam a ponto de dizerem: ‘Nada mais podemos fazer’, o Espírito do Senhor vinha sobre mim, e eu era arrebatada em visão, e era-me dada uma clara explanação das passagens que estivéramos estudando, com instruções quanto à maneira em que devíamos trabalhar e ensinar eficientemente. Assim nos foi proporcionada luz que nos ajudou a compreender as passagens acerca de Cristo, Sua missão e sacerdócio. Foi-me tornada clara uma cadeia de verdades que se estendia daquele tempo até ao tempo em que entraremos na cidade de Deus, e transmiti aos outros as instruções que o Senhor me dera.

“Durante todo o tempo eu não podia compreender o arrazoamento dos irmãos. Minha mente estava por assim dizer fechada, não podia compreender o sentido das passagens que estudávamos. Esta foi uma das maiores tristezas de minha vida. Fiquei neste estado de espírito até que nos fossem tornados claros todos os pontos principais de nossa fé, em harmonia com a Palavra de Deus. Os irmãos sabiam que, quando não em visão, eu não compreendia esses assuntos, e aceitaram como luz direta do Céu as revelações dadas.” — Mensagens Escolhidas 1:206, 207.

Assim o alicerce da Igreja Adventista do Sétimo Dia foi lançado mediante o fiel estudo da Palavra de Deus, e quando os pioneiros se viam incapazes de avançar, Ellen White recebia luz que ajudava a explanar a dificuldade e abria caminho para o estudo continuar. As visões também aplicavam a marca da aprovação de Deus nas conclusões corretas. Assim o dom profético agia como corretor de erros e confirmador da verdade. Ver Obreiros Evangélicos, 302.

Os pioneiros começam a publicar

Logo depois de realizada a quinta dessas conferências sobre o sábado, realizadas em 1848, celebrou-se outra reunião no lar de Otis Nichols, em Dorchester (próximo de Boston), Massachusetts. Os irmãos estavam estudando e orando acerca de sua responsabilidade de disseminar a luz que o Senhor fizera incidir em sua vereda. Ao estudarem, Ellen White foi tomada em visão, e nessa revelação foilhe mostrado o dever de publicar essa luz. Ela conta o incidente em Vida e Ensinos:

“Depois da visão eu disse ao meu esposo:—‘Tenho uma mensagem para ti. Deves começar a publicar um pequeno jornal e mandálo ao povo. Que seja pequeno a princípio; mas, lendo-o o povo, mandar-te-ão meios com que imprimi-lo, e alcançará bom êxito desde o princípio. Desde este pequeno começo foi-me mostrado assemelhar-se a torrentes de luz que circundavam o mundo.’” — Pág. 127.

Aí estava um chamado à ação. Que poderia fazer Tiago White? Possuía poucos bens deste mundo. Mas a visão era uma diretiva divina, e sentiu-se compelido a ir em frente, pela fé. Assim, com sua Bíblia e Concordância de setenta e cinco centavos — livros já com as capas rasgadas, Tiago White pôs-se a preparar os artigos sobre a verdade do sábado e outros tópicos semelhantes, para imprimi-los em um pequeno periódico. Tudo isso tomou tempo, mas afinal ele apresentou os originais a um impressor de Middletown, Connecticut, o qual se mostrou disposto a confiar em seu pedido. Os artigos foram compostos, lidas as provas, e imprimiram-se mil exemplares do periódico. Tiago White transportou-os da tipografia de Middletown para o lar dos Belden, onde ele e Ellen tinham encontrado um refúgio temporário. A pequena folha tinha o tamanho de seis por nove polegadas e era de oito páginas. Tinha o título de The Present Truth (A Verdade Presente). Trazia a data de Julho, 1849. Depuseram sobre o soalho a pequena pilha de revistas. Então os irmãos e irmãs se reuniram em volta delas e com lágrimas imploraram a Deus que abençoasse o pequenino periódico, ao ser expedido. Então as folhas foram dobradas, embrulhadas e endereçadas, e Tiago White as levou ao correio de Middletown, distante doze quilômetros. Foi assim que começou a obra de publicações da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Dessa maneira foram expedidos quatro números, e sempre antes de serem levados ao correio, se orava por eles. Logo começaram a chegar cartas falando de pessoas que haviam começado a guardar o sábado por haverem lido os periódicos. Algumas das cartas continham dinheiro, e em Setembro Tiago White estava em condições de pagar à tipografia de Middletown os 64 e meio dólares devidos pelos quatro números.

Início da publicação de Review and Herald

Como Tiago e Ellen White viajassem muito, demorando-se uns poucos meses aqui e outros poucos ali, providenciaram a publicação de vários números do periódico. Afinal se publicou o undécimo e último número, em Paris, Maine, em Novembro de 1850. A Sra. White contribuiu com vários artigos para The Present Truth. A maioria deles se encontra na primeira parte de Primeiros Escritos. (Ver págs. 36-54.)

Também em Novembro realizou-se em Paris uma conferência, na qual os irmãos deram estudo à crescente obra de publicações. Resolveram aumentar o periódico, e mudaram-lhe o título para The Second Advent Review and Sabbath Herald (Arauto do Segundo Advento e do Sábado). Foi por alguns meses publicado em Paris, Maine, e depois em Saratoga Springs, Estado de Nova Iorque. Desde esse dia até hoje publica-se como o órgão da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (Nota do tradutor: Recentemente passou a adotar o título de Adventist Review.)

Quando moravam em Saratoga Springs, Tiago White, em Agosto de 1851, providenciou a publicação do primeiro livro da Sra. White, intitulado A Sketch of the Christian Experience and Views of Ellen G. White (Esboço da Experiência Cristã e Visões de Ellen G. White), nas páginas 11-83 desta obra. Com suas 64 páginas era apenas pouco mais que um folheto.

Na primavera de 1852, os White transferiram-se para Rochester, Estado de Nova Iorque, e ali estabeleceram um escritório no qual puderam imprimir suas próprias publicações. Os irmãos atenderam ao apelo, concorrendo com o dinheiro para a compra de um prelo e levantaram-se seiscentos dólares para adquirir o equipamento. Quão felizes se sentiram os primitivos crentes quando nossas publicações puderam ser impressas num prelo observador do sábado! Por um pouco mais de três anos viveram em Rochester e ali publicaram a mensagem. Além da Review and Herald e da Youth’s Instructor, esta iniciada por Tiago White em 1852, também, de quando em quando, publicavam folhetos. O segundo opúsculo da Sra. White, Supplement to the Christian Experience and Views of Ellen G. White, foi publicado em Rochester, em Janeiro de 1854. Isto encontra-se agora em Primeiros Escritos, 85-127.

Battle Creek torna-se o centro das publicações

Em Novembro de 1855, Tiago e Ellen White e seus auxiliares mudaram-se para Battle Creek, Michigan. O prelo e outras peças de impressão foram postos numa construção erguida por vários dos adventistas observadores do sábado, que haviam fornecido o dinheiro para estabelecer sua própria tipografia. Ao desenvolver-se o trabalho naquela cidadezinha, Battle Creek tornou-se a natural sede da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Mas foi com dificuldade que Tiago White manteve a obra de publicações.

Ao considerarmos os antecedentes dos Primeiros Escritos, convém notar que os primeiros adventistas observadores do sábado, a princípio sentiam a responsabilidade de alcançar com a verdade do sábado unicamente seus irmãos antigos, do grande Despertamento Adventista; isto é, aqueles que tinham ficado com eles no espaço da primeira e segunda mensagens angélicas. Conseqüentemente, por cerca de sete anos depois de 1844, seus trabalhos foram em grande parte em favor dos adventistas que não se tinham ainda posto ao lado da terceira mensagem angélica. Aos que estão familiarizados com as circunstâncias, isto é compreensível.

A “porta fechada” e a “porta aberta”

Nos empenhos especiais que se fizeram por proclamar a mensagem do Advento no verão de 1844, os líderes do movimento tinham visto sua própria experiência retratada na parábola das Dez Virgens, relatada em Mateus 25. Houvera um “tempo de tardança”, seguido do clamor: “Eis o noivo! saí ao seu encontro.” A isto se chamava comumente “o clamor da meia-noite”. Em sua primeira visão, esse foi mostrado à Sra. White como uma brilhante luz posta atrás dos adventistas, no começo da vereda. Na parábola, liam que os que estavam prontos entraram com o noivo para as festas das bodas, “e fechou-se a porta”. Ver Mateus 25:10. Concluíram, portanto, que a 22 de Outubro de 1844, a porta da misericórdia se fechou para os que deixaram de aceitar a mensagem que tão vastamente se proclamara. Alguns anos mais tarde Ellen White assim comentou o caso:

“Depois de passado o tempo em que era esperado nosso Salvador, acreditavam eles ainda estar próxima a Sua vinda; mantinham a opinião de haverem chegado a uma crise importante, e de que cessara a obra de Cristo como intercessor do homem perante Deus. Parecia-lhes ser ensinado na Escritura Sagrada que o tempo de graça do homem terminaria um pouco antes da própria vinda do Senhor nas nuvens do céu. Isto parecia evidenciar-se das passagens que indicam o tempo em que os homens hão de procurar, bater e clamar à porta da graça, mas esta não se abrirá. E surgiu entre eles a questão de saber se a data em que haviam aguardado a vinda de Cristo não marcaria porventura o começo deste período que deveria preceder imediatamente a Sua vinda. Tendo dado a advertência da proximidade do juízo, sentiam que sua obra em favor do mundo se achava feita, e não mais sentiam o dever de trabalhar pela salvação dos pecadores, enquanto o escárnio ousado e blasfemo dos ímpios lhes parecia outra evidência de que o Espírito de Deus Se retirara dos que rejeitavam a misericórdia divina. Tudo isto os confirmava na crença de que o tempo da graça findara, ou como eles então o exprimiam, ‘a porta da graça se fechara’.” — O Grande Conflito entre Cristo e Satanás, 428, 429.

Então a Sra. White continua a mostrar como a luz começou a brilhar quanto a esta questão:

“Uma luz mais clara, porém, surgiu pela investigação do assunto do santuário. Viam agora que estavam certos em crer que o fim dos 2.300 dias em 1844 assinalava uma crise importante. Mas, conquanto fosse verdade que se achasse fechada a porta da esperança e graça pela qual os homens durante mil e oitocentos anos encontraram acesso a Deus, outra porta se abrira, e oferecia-se o perdão dos pecados aos homens, mediante a intercessão de Cristo no lugar santíssimo. Encerrara-se uma parte de Seu ministério apenas para dar lugar a outra. Havia ainda uma ‘porta aberta’ para o santuário celestial, onde Cristo estava a ministrar pelo pecador.

“Via-se agora a aplicação das palavras de Cristo no Apocalipse, dirigidas à igreja, nesse mesmo tempo: ‘Isto diz O que é santo, O que é verdadeiro, O que tem a chave de Davi; O que abre e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre. Eu sei as tuas obras; e eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar.’ Apocalipse 3:7, 8.

“Os que, pela fé seguem a Jesus na grande obra da expiação, recebem os benefícios de Sua mediação em seu favor; enquanto os que rejeitam a luz apresentada neste ministério não são por ela beneficiados.” — Idem, 429.

Os dois caminhos de saída da perplexidade

A Sra. White fala então de como os dois grupos de crentes no Advento se relacionaram com o caso do desapontamento de 22 de Outubro de 1844:

“O transcurso do tempo em 1844 foi seguido de um período de grande prova para os que ainda mantinham a fé do advento. Seu único alívio, no que dizia respeito a determinar sua verdadeira posição, era a luz que lhes dirigia o espírito ao santuário celestial. Alguns renunciaram a fé na contagem anterior dos períodos proféticos, e atribuíram a forças humanas ou satânicas a poderosa influência do Espírito Santo que acompanhara o movimento adventista. Outra classe sustentava firmemente que o Senhor os guiara na experiência por que passaram; e, como esperassem, vigiassem e orassem, a fim de conhecer a vontade de Deus, viram que seu grande Sumo Sacerdote começara a desempenhar outra parte do ministério, e, seguindo-O pela fé, foram levados a ver também a obra final da igreja. Obtiveram mais clara compreensão das mensagens do primeiro e segundo anjos, e ficaram habilitados a receber e dar ao mundo a solene advertência do terceiro anjo de Apocalipse, capítulo 14.” — Idem, 431.

Certas referências à “porta aberta” e à “porta fechada” ocorrem nesta obra, nas págs. 42-45. Isto só se compreende corretamente à luz do contexto da experiência de nossos crentes primitivos.

Não muito tempo depois do Desapontamento os pioneiros viram que, conquanto houvesse os que, pela definitiva rejeição da luz haviam fechado a porta de sua salvação, muitos havia que não tinham ouvido a mensagem nem a rejeitado, e esses poderiam tirar benefício das providências tomadas para a salvação do homem. Nos idos de 1850 esses pontos se apresentaram claramente. Então, também, começaram a abrir-se oportunidades para a apresentação das três mensagens angélicas. O preconceito estava desaparecendo.

Ellen White, olhando retrospectivamente para sua experiência após o Desapontamento, escreveu:

“‘Era naquele tempo quase impossível obter acesso a descrentes. O despontamento de 1844 confundira a mente de muitos, e não davam ouvido a qualquer explanação do caso.’” — The Review and Herald, 20-11-1883.

Mas em 1851 o Pastor White pôde relatar: “‘Agora está aberta quase por toda parte a porta para apresentar a verdade, e estão preparados para ler as publicações muitos que dantes não tinham interesse para investigar.’” — The Review and Herald, 19-8-1851.

Convite para a organização da igreja

Mas com essas novas oportunidades, e com número maior de pessoas aceitando a mensagem, insinuaram-se em seu meio alguns elementos discordantes. Se esses não tivessem sido detidos, a obra teria sido grandemente prejudicada. Mas aqui de novo vemos a providência de Deus a guiar Seu povo, pois em 24 de Dezembro de 1850, numa visão dada a Ellen White, refere-nos ela:

“‘Vi quão grandioso e santo é Deus. Disse o anjo: “Ande com cuidado diante dEle, pois Ele é alto e sublime, e o séquito de Sua glória enche o templo”. Vi que no Céu tudo está em perfeita ordem. Disse o anjo: “Vede vós, Cristo é a cabeça, movei-vos em ordem, movei-vos em ordem. Tende um significado para cada coisa.” Disse o anjo: “Vede vós e sabei quão perfeita, quão bela é a ordem no Céu; segui-a.”’” — Manuscrito 11, 1850.

Tomou tempo levar os crentes em geral a apreciar as necessidades e o valor da ordem evangélica. O passado de sua vida nas igrejas protestantes das quais se haviam separado, levou-os a ser cautelosos. Exceto nos lugares onde era muito evidente a necessidade prática, o temor de animar a formalidade manteve os crentes afastados da organização eclesiástica. Só um decênio após a visão de 1850 é que, afinal, se efetuaram planos mais amadurecidos, para organização. Sem dúvida um fator de primeira importância para levar à maturação os esforços foi um compreensivo capítulo, intitulado “Ordem Evangélica”, publicado no Supplement to the Christian Experience and Views of Ellen G. White. Isso aparece nesta obra, nas páginas 97-104.

Em 1860, em conjunto com a organização da obra de publicações, escolheu-se um nome. Alguns optaram pelo nome “Igreja de Deus”, julgando-o apropriado, mas prevaleceu a opinião de que o nome devia refletir os distintivos ensinos da igreja. Adotaram o nome de “Adventista do Sétimo Dia”. No ano seguinte alguns grupos de crentes organizaram-se em igrejas, e no Michigan se formou uma associação estadual. Logo houve várias associações estaduais. Então em Maio de 1863 organizou-se a Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Isto foi cinco anos após a publicação dos Primeiros Escritos.

Visão do “grande conflito”

Já nos referimos à mudança da obra de publicações de Rochester, Nova Iorque, para Battle Creek, Michigan, em Novembro de 1855. O Pastor White e esposa estabelecerem-se em Battle Creek e depois que a obra ficou bem estabelecida lá, foi-lhes possível continuar suas viagens pelo campo. Foi por ocasião de uma visita ao Estado de Ohio, em Fevereiro e Março de 1858, que foi dada à Sra. White a importante visão do grande conflito, na escola pública de Lovetts Grove. O relato dessa visão, que levou duas horas, encontra-se em Life Sketches of Ellen G. White, 161, 162. Em Setembro de 1858 foi publicado Spiritual Gifts (Dons Espirituais) Volume I: The Great Controversy Between Christ and His Angels and Satan and His Angels (O Grande Conflito Entre Cristo e Seus Anjos e Satanás e Seus Anjos). Esse pequeno volume de 219 páginas forma a terceira e última divisão de Primeiros Escritos.

Às pequenas publicações dos primeiros quinze anos da obra da Sra. White deviam seguir-se muitos livros maiores, tratando de muitos assuntos de suma importância aos que guardam os mandamentos de Deus e têm a fé em Jesus Cristo. Não obstante, os primeiros escritos serão especialmente caros ao coração dos Adventistas do Sétimo Dia.

Depositários das Publicações de Ellen G. White Washington, D. C. Março, 1963